Dias muito tristes se vivem no nosso Benfica.
Primeiro, o actual Presidente Luís Filipe Vieira decide, por motivos de instabilidade, demitir-se e antecipar as eleições. Poucos perceberam que “instabilidade” era essa. Afinal, o Benfica tinha terminado o Campeonato em 3º lugar (nada de novo, infelizmente) e Quique Flores ainda era treinador do Benfica.
Ainda o campeonato não tinha terminado e já os jornais desportivos noticiavam que Quique não tinha condições para continuar a treinar o clube, sendo que Jorge Jesus seria o senhor que se seguiria. Nunca, mas nunca, a Direcção mostrou qualquer apoio ao treinador, chegando-se ao cúmulo de, na penúltima jornada do Campeonato, o potencial ex-treinador do Benfica defrontar o potencial novo treinador do Benfica.
Ao longo das últimas jornadas, não vi nada de novo no Benfica. O treinador, que em Agosto era o melhor do Mundo, já não tinha condições para continuar a treinar o Benfica. O treinador que tanta empatia tinha com os adeptos era agora vítima de lenços brancos. E a direcção nada disse, nada fez. Na última jornada, sem que ninguém percebesse muito bem, nada de lenços brancos. Aplausos, manifestações de apoio, enfim, o normal no Benfica. Até agora, nada de instabilidade, pelo menos que fosse provocada pela oposição.
Terminado o campeonato, continuou tudo na mesma. Treinador a arder em banho-maria, Jorge Jesus continuava a aparecer nas capas dos jornais e começava a novela da indemnização de Quique.
E assim, sem razão aparente, Luís Filipe Vieira antecipa as eleições para 3 de Julho, alegando a tal “instabilidade” provocada pela oposição. Uma oposição que, aparentemente, pouco tinha de impressionante ou ameaçador. De um lado tínhamos Bruno Carvalho, director do Porto Canal, um rosto desconhecido dos Benfiquistas. Do outro, o “Movimento Benfica Vencer, Vencer”, que nem rosto tinha.
O Movimento tinha, isso sim, um nome que assustava Luís Filipe Vieira. Esse nome era José Veiga, uma personagem controversa e dicotómica. Uns não admitiam a presença de um antigo presidente de uma casa do Porto no Benfica. Outros ansiavam pelo regresso daquele que consideravam ser o principal obreiro do último campeonato conquistado. Aparentemente, José Veiga só completava 5 anos de sócio efectivo em Outubro, altura em que teriam lugar as eleições.
Menciono isto apenas para ilustrar os dois lados da história – o da direcção, que alegou instabilidade provocada; e o da oposição que acusou Luís Filipe Vieira de medo.
O Movimento viu-se então forçado a acelerar as suas acções, surgindo então o nome de José Eduardo Moniz. José Eduardo Moniz, rosto conhecido não só dos Benfiquistas como de quase todos os Portugueses. Ainda assim, nunca o conheci como um “rosto Benfiquista”. Seria, isso sim, uma alternativa forte a Luís Filipe Vieira, pelo seu perfil enquanto gestor. José Eduardo Moniz declinou o convite, ficando no entanto a ideia que estaria disponível para concorrer no próximo acto eleitoral.
A corrida ficou então reduzida a dois – Luís Filipe Vieira e Bruno Carvalho.
Entretanto, Quique foi finalmente demitido e Jorge Jesus apresentado. Tudo levava a crer que Luís Filipe Vieira continuaria à frente dos destinos do Benfica.
Mas o circo não ficou por aqui. Primeiro, uma providência cautelar de um apoiante de Bruno Carvalho punha em causa a antecipação das eleições, sendo a mesma providência prontamente rejeitada.
De seguida, e vindo do nada, surge Carlos Quaresma, um putativo candidato à Presidência, não conseguindo, no entanto, reunir o número de integrantes necessário. Aparentemente, o mesmo Carlos Quaresma interpôs uma outra providência, contestando a legitimidade da lista de Luís Filipe Vieira, que ainda ninguém compreende se foi ou não aprovada. Como o leitor certamente realizou, o autor deste post não tem formação em Direito, logo não irá emitir qualquer parecer jurídico relativamente a estas providências, apenas sabe o que lê nos jornais.
Neste momento, não há certezas de nada. Não sabemos se a lista de Luís Filipe Vieira tem legitimidade; não sabemos se Bruno Carvalho será o único candidato; não sabemos sequer se amanhã haverá lugar a eleições.
O que sei é que, ironicamente, Luís Filipe Vieira alegou em Junho que a “instabilidade” o levou a antecipar as eleições. Pois bem, mais instabilidade que a que se vive nestes tristes dias é certamente impossível. Chegámos ao ridículo de não sabermos se valerá a pena deslocarmo-nos amanhã ao estádio. Mais irónico ainda seria Luís Filipe Vieira ver-se afastado das eleições em consequência das suas próprias acções.
São dias tristes que se vivem no nosso clube, como referi no início do texto. O Benfica não merecia estas eleições, nem toda esta instabilidade. Estou certo que tanto o Benfica como o próprio Luís Filipe Vieira teriam muito mais a ganhar sem estes golpes, jogadas de bastidores, pára-quedistas e providências cautelares. Bastava terem ignorado a tal “instabilidade”, preocuparem-se em preparar a nova época e aí sim, em Outubro, apresentar o trabalho feito e deixar o processo eleitoral decorrer na sua normalidade.