quarta-feira, 29 de abril de 2009

Critérios e Normalidade

Estranhos critérios movem esta Liga e as equipas que nela participam.

Treinadores portistas que fazem manguitos aos próprios jogadores por, nas palavras dos mesmos, "falharem golos fáceis"; treinadores sportinguistas que fazem o famoso "sinal do gamanço" e mandam os árbitros para locais menos próprios; treinadores académicos que se dirigem ao árbitro com o não menos famoso "sinal do dinheirinho"...

Jogadores sportinguistas que se dedicam a essa nova modalidade que é o "lançamento da medalha", que dão peitadas em árbitros, que dizem, alto e a bom som que "foram roubados"...

Defesas portistas que distribuem fruta como se estivessem no Mercado da Ribeira mas que não vêem cartões amarelos, com golpes dignos do mais recente filme do Van Damme sem que, por isso, motivem qualquer reacção de indignação da equipa lesada.

Dirigentes do mesmo clube que se passeiam pelos túneis de acesso insultando tudo e todos (até mesmo durante um flash interview), mas que aparentemente nunca são identificados.

Depois, temos o Benfica.

No Benfica, os jogadores jogam a bola com a mão quando sofrem falta dentro da grande área.

No Benfica, os jogadores são condenados pela Liga pelo que dizem em entrevistas a jornais desportivos (exactamente o mesmo que os jogadores de outros clubes dizem, alto e a bom som, nos flash interviews).

No Benfica, os dirigentes são suspensos por palavras dirigidas ao árbitro que ninguém ouviu, por gestos que ninguém viu. No Benfica, passam-se multas por mau comportamento dos adeptos, quando noutros estádios se vêem invasões de campo. No Benfica, o presidente é suspenso por "pressões inaceitáveis sobre a arbitragem", quando noutros clubes se recebem árbitros em casa para tomar café e dar conselhos sobre a vida privada. Tudo isto são situações anormais.

No Sporting, é normal um treinador chamar incompetentes aos árbitros. No Sporting, é normal um treinador fazer o "gesto do gamanço". No Sporting, é normal um treinador ser expulso de um jogo e não cumprir qualquer jogo de castigo. Tudo normal.

No Porto, é normal um presidente receber árbritros em casa. No Porto, é normal haverem 50 jogadores no plantel, sendo que 10 desses jogadores estão emprestados a equipas da 1ª Liga. No Porto, é normal ameaçar jogadores com tiros nas rótulas ou treinadores com petardos debaixo do seu automóvel (não vi qualquer multa por mau comportamento dos adeptos). Tudo normal.

E é na maior das normalidades que vai seguindo o nosso futebol. Com receitas cada vez menores. Com estádios cada vez mais vazios. Com cada vez maior desconfiança sobre os árbitros. Com processos em que se provam árbitros corrompidos mas não se descobrem dirigentes corruptores. Com critérios para alguns e critérios para outro (atenção - singular).

Caminhando alegremente (e com toda a normalidade) rumo ao abismo.